sábado, 6 de agosto de 2011

O que é Umbanda?


1)      Umbanda é uma religião formada dentro da cultura religiosa brasileira que sincretiza vários elementos, inclusive de outras religiões como o catolicismo, o espiritismo e as religiões afro. A palavra umbanda deriva de m’banda, que na língua africana Yorubá significa “sacerdote” ou “curandeiro”.

2)      Foi criada em 1908 pelo médium Zélio Fernandino de Moraes, por influência do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Antes disso, já havia, de fato, o trabalho de guias (pretos-velhos, caboclos, crianças), assim como religiões ou simples manifestações religiosas espontâneas cujos rituais envolviam incorporações e o louvor aos orixás. Entretanto, foi através de Zélio que organizou-se uma religião com rituais e contornos bem definidos à qual deu-se o nome de umbanda.

3)      Nessa época, não havia liberdade religiosa. Todas as religiões que apontavam semelhanças com rituais afros eram perseguidas, os terreiros destruídos e os praticantes presos. Em 1945, José Álvares Pessoa, dirigente de uma das sete casas de umbanda fundadas inicialmente pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, obteve junto ao Congresso Nacional a legalização da prática da umbanda. A partir daí, muitas tendas cujos rituais não seguiam o recomendado pelo fundador da religião, passaram a dizer-se umbandistas, de forma a fugir da perseguição policial. Foi aí que a religião começou a perder seus contornos bem definidos e a misturar-se com outros tipos de manifestações religiosas. De tal forma que hoje a umbanda original é praticada em pouquíssimas casas.

4)      Fundamentos: Os fundamentos da umbanda variam conforme a vertente que a pratique. Existem alguns conceitos básicos que são encontrados na maioria das casas e assim podem, com certa ressalva e cuidado, ser generalizados para todas as formas de umbanda. Segue:
a)      A existência de uma fonte criadora universal, um Deus supremo, chamado Olorum. Algumas das entidades, quando incorporadas, podem nomeá-lo de outra forma, como por exemplo Zambi para pretos-velhos, Tupã para caboclos, entre outros, mas são todos o mesmo Deus;
b)      A obediência aos ensinamentos básicos dos valores humanos, como: fraternidade, caridade e respeito ao próximo. Sendo a caridade uma máxima encontrada em todas as manifestações existentes;
c)      O culto aos orixás como manifestações divinas (alguns umbandistas cultuam a chamada umbanda branca, esta no entanto não cultua os orixás, sendo unicamente voltada ao culto de caboclos, pretos velhos e crianças), em que cada orixá controla e se confunde com um elemento da natureza do planeta ou da própria personalidade humana, em suas necessidades e construções de vida e sobrevivência;
d)      A manifestação dos Guias para exercer o trabalho espiritual incorporado em seus médiuns ou “aparelhos”;
e)      O mediunismo como forma de contato entre o mundo físico e o espiritual, manifesta de diferentes formas;
f)       Uma doutrina, uma regra, uma conduta moral e espiritual que é seguida em cada casa de forma variada e diferenciada, mas que existe para nortear os trabalhos de cada terreiro;
g)      A crença na imortalidade da alma;
h)      A crença na reencarnação e nas leis cármicas.

5)      Orixás: Os Orixás não são originários da umbanda, muito antes eles já eram reverenciados nas terras africanas por diversas tribos. Muitos deles não se tornaram conhecidos aqui no Brasil, e até mesmo nas tribos africanas cada um possuía seus orixás e desconhecia outros que eram cultuados em tribos diferentes. Quando começou o tráfico de escravos, muitos negros de tribos diferentes foram vendidos juntamente, desta maneira os diversos orixás de tribos distantes se encontraram em terras brasileiras e formaram o grande panteão do Candomblé, que a Umbanda acabou trazendo para o seu panteão. Notadamente a nação que mais influenciou a Umbanda foi a Iorubá.

6)      Sincretismo: A umbanda é uma junção de elementos africanos (Candomblé e culto aos antepassados), indígenas (culto aos antepassados e elementos da natureza), Catolicismo (o europeu, que trouxe o cristianismo e seus santos que foram sincretizados pelos negros africanos), Espiritismo (fundamentos espíritas, reencarnação, lei do carma, progresso espiritual, etc). A umbanda prega a existência pacífica e o respeito ao ser humano, à natureza e a Deus. Respeita toda manifestação de fé, independente da religião.  A máxima dentro da umbanda é “Dê de graça, o que de graça recebestes: com amor, humildade, caridade e fé!” Mantém-se na umbanda o sincretismo religioso com o catolicismo e os seus santos. Existem diferenças sobre as cores de cada orixá conforme o local do Brasil e a tradição por seus seguidores, da mesma forma quanto ao Santo sincretizado a cada orixá. Veja as sincretizações:
a)      Oxumaré – São Bartolomeu (Brasil todo);
b)      Ogum – São Jorge (Centro-sul do Brasil) e Santo Antônio na Bahia;
c)      Oxóssi – São Sebastião (Centro-sul do Brasil), São Jorge na Bahia;
d)      Xangô – São Jerônimo, São João Batista;
e)      Iemanjá – Nossa Senhora dos Navegantes; Nossa Senhora da Conceição
f)       Oxum – Nossa Senhora Aparecida; Nossa Senhora da Conceição
g)      Iansã – Santa Bárbara;
h)      Omulu – São Roque;
i)        Obá – Santa Rita de Cássia, Santa Joana d’Arc;
j)        Obaluaê – São Lázaro;
k)      Nanã – Sant’Anna;
l)        Ibeji – Cosme e Damião;
m)   Oxalá – Divino Jesus Cristo, o Ser Cristalino.
n)      Exu – Santo Antônio (no Rio de Janeiro), chamado de Bará no Rio Grande do Sul.

7)      Sobre o Culto Umbandista: A umbanda tem como lugar de culto o templo, terreiro ou Centro, que é o local onde os Umbandistas se encontram para a realização do culto aos orixás e dos seus guias, que na umbanda se denominam giras. O chefe do culto no Centro é o Sacerdote (Pai de Santo) ou Sacerdotisa (Mãe de Santo). São os médiuns mais experientes e com maior conhecimento, normalmente fundadores do terreiro. São quem coordenam as sessões/giras e que irão incorporar o guia-chefe, que comandará a espiritualidade e a materialidade durantes os trabalhos. Como uma religião espiritualista, a ligação entre os encarnados e os desencarnados se faz por meio dos médiuns. Na umbanda existem várias classes de médiuns, de acordo com o tipo de mediunidade. Normalmente há os médiuns de incorporação, que irão “emprestar” seus corpos para os guias e para os orixás. Há também os atabaqueiros, que transmitem a vibração da espiritualidade superior por via dos atabaques, criando um campo energético favorável à atração de determinados espíritos, sendo muitas vezes responsáveis pela harmonia da gira. Há os Corimbas, que são os que comandam os cânticos e as cambonas que são encarregadas de atender as entidades, provisionando todo o material necessário para a realização dos trabalhos. Embora caiba ao sacerdote ou à sacerdotisa responsável o comando vibratório do rito, grande importância é dada à cooperação, ao trabalho coletivo de toda a corrente mediúnica. Na umbanda, as entidades que são incorporadas pelos médiuns podem ser: pretos velhos, caboclos, boiadeiros, mineiros, crianças, marinheiros, ciganos, baianos, orientais, xamãs e exus.

8)      Sessões: O culto nos terreiros é dividido em sessões de desenvolvimento e de consulta, e essas, são subdivididas em giras. Nas sessões de consulta, onde comumente podemos encontrar Pretos-Velhos, Caboclos, Ciganos as pessoas conversam com as entidades a fim de obter ajuda e conselhos para suas vidas, curas, descarregos, e para resolver problemas espirituais diversos. As ocorrências mais comuns nessas sessões são o “passe” e o descarrego. No passe, a entidade reorganiza o campo energético astral da pessoa, energizando-a e retirando toda a parte fluídica negativa que nela possa estar. O descarrego é feito com o auxílio de um médium, o qual irá captar a energia negativa da pessoa e a transferir para os assentamentos ou fundamentos do terreiro que contém elementos dissipadores dessas energias. Também a entidade faz com que essa energia seja deslocada para o astral. Caso seja um obsessor, o espírito obsediador é retirado e encaminhado para tratamento ou para um lugar mais adequado no astral inferior, caso ele não aceite a luz que lhe é dada. Nesses casos pode ser necessária a presença de um ou mais Exus (um gênero de espírito desencarnado) para auxiliar a desobsessão. Os dias de consulta e/ou desenvolvimento podem variar de casa para casa, de Linha Doutrinária para Linha Doutrinária. Nos dias de consulta há o atendimento da assistência e nos dias de desenvolvimento há as giras mediúnicas, que são fechadas à assistência, onde os sacerdotes educam e ensinam os mecanismos próprios da mediunidade.

9)      Polêmicas na Umbanda:
a)      Sacrifício de Animais: Existem várias ramificações dentro da religião de umbanda. Entretanto apenas algumas linhas de umbanda se usa o sacrifício de animais, como em Almas e Angola. Esta prática está ligada a algumas linhas que ainda cultuam junto com a umbanda alguns rituais de religiões afro-brasileiras.
b)      Uso de Bebidas Alcoólicas: Também encontramos terreiros dos seguintes tipos:
i)        Os que as entidades incorporadas não usam bebidas (muitas vezes por questão do próprio médium não estar preparado para este tipo de trabalho com bebida) criando uma espécie de tabu;
ii)      Os que elas bebem durante os trabalhos (tanto os que fazem o uso correto deste elemento, como os que abusam);
iii)    Os que usam bebida em situações mais veladas (existindo um certo rigor quanto a sua utilização, buscando coibir abusos de médiuns ainda em preparação).

Toda essa controvérsia é gerada pelo uso que as pessoas fazem das bebidas alcoólicas na vida diária, muitas vezes caindo no vício do alcoolismo, trazendo conseqüências graves para sua vida material e espiritual. Ocorre que médiuns predispostos ao vício podem, ao invés de atraírem espíritos de luz, afinizarem-se com espíritos de viciados que já morreram – esses espíritos serão obsessores dessa pessoa, uma vez que ela satisfaz seus desejos materialistas. Note-se que o álcool é um elemento usado na magia para trabalhos para o bem; abusos nunca são tolerados e exibicionismo não são sinais de incorporações de luz. Existem casas que, por ordem do mentor espiritual, nunca usaram ou deixaram de utilizar o fumo, assim como a bebida alcoólica, sem que por isso, tivessem qualquer problema com as entidades que, por ventura, utilizavam esses elementos. Afinal, os espíritos podem se adaptar e mudar a forma de trabalhar de acordo com o fundamento de cada instituição. É importante ressaltar, ainda, que quanto menos o espírito utilizar materiais terrenos melhor. Eles podem trabalhar com elementos bastante etéreos e tão eficazes quanto os fluídos do próprio médium.

10)  Paramentos: Na umbanda, os médiuns usam normalmente como paramentos apenas roupas brancas, podendo estar os pés descalços, representando a simplicidade e a humildade. Mas há umbandas que também utilizam roupas com as cores de cada linha. Por exemplo, em giras de Ogum se utiliza camisas ou batas vermelhas e calças e saias brancas. Nas giras de esquerda as roupas são pretas, sendo que as filhas de santo podem se vestir de vermelhe e preto. Pode ocorrer, por exemplo, que uma entidade de Preta-Velha solicite uma saia ou um lenço para amarrar os cabelos; isso visa a proporcionar que o médium se pareça mais com a entidade que está incorporando. Também há os apetrechos dos guias. Por exemplo, os Caboclos costumam utilizar cocares, alguns utilizam machadinhas de pedra, chocalhos, etc. Uma outra visão sobre os paramentos e apetrechos materiais utilizados pelos médiuns é de que são usados pelos espíritos como condensadores de energia: um modo de concentrar a energia e depois enviá-la, se positiva, ou dissipá-la no elemento apropriado, quando negativa.